Venho incessantemente falando do meu momento, pois é meu blog e estou tratando-o como tal, escrevo sempre o que me vem a cabeça e é claro que passo as vezes - muito pouco até - um certo filtro(não estou aqui para me expor tanto). Falo neste de espaço físico mesmo, quando a vida vai enxugando, enxugando e vamos nos desfazendo de coisas, objetos que juntamos ao longo da vida. Muitas vezes só para compor um cenário que criamos para nosso personagem. Porque sai bem na foto. Vamos ficando submersos em pensamentos e lembranças que desbotam a vida como fotografia ... sei que muitos contam um pouco de nós, mas outros contam muito. Alguns nos trazem boas memórias, lembranças que nos confortam, outras que nos alegram de tempos em que sentimentos mais leves nos acompanhavam. Tem também os mais perigosos, os que nos atrelam a relações doentias do passado, de momentos de angustia, medo, raiva, solidão ... sentimentos que somente nos faz sofrer. Acostuma-se com o ruim também e até podemos sentir falta dele. Impressionaste como o ser humano tem a capacidade de se boicotar. Então estes objetos devem ser despachados para outros horizontes, pegar outro rumo, acompanhar outro ser. Páginas da vida viradas para se viver, uma coisa Manuel Carlos.
O vida moderna está bem propícia para quem vive com o "menos é mais" como lema. Como eu! Claro que o início, o que deu o start em tudo, foi uma necessidade material o que não anula um desconforto que parceiro meu se tornou na jornada. Punk! Hora de fazer uma avaliação geral. Parar porque não tem outra forma de ser. Momento para ficar quieto - este já passou - depois ação, quieto novamente e assim seguindo. Ir passo a passo no compasso (sambinha bom!). Não atropelar. "Atenção ao dobrar uma esquina", canta Gal. Sempre atento aos sinais. No começo foram os móveis, depois eletrodomésticos, quadros, objetos de decoração, lustre de família, várias quiquilharias de família muitas delas que só serviam para acumular poeira e dar trabalho. Uma pessoa que mora sozinha não precisa disto. Posso muito bem viver com menos.
Me desfiz! De muito. Desmontei um ap para alugá-lo, foi preciso. Agora me reerguendo e recolocando alguns ítens de volta, me deparei com o tamanho e a quantidade de coisas que posso ter em um espaço de 2x2. Tudo o que precisaria de um local com maiores dimensões, tipo TV, vídeo, computador, som, livros, fotos, cd's, etc etc etc, preciso somente de um NoteBook, um IPod, uma LCD - não confundir com LSD - um celular/rádio. Pronto! Já se tem tudo o que é preciso e cabe dentro de um 2x2, isso sem falar no colchão QueenSize delícia para hibernar. Não há necessidade de ostentações, mais ainda quando não se tem muito o que ostentar. Melhor ser honesto com a condição real e viver bem, não importa o quem.
Aqui descrevi com pormenores o "menos é mais" em relação a assuntos mais materiais digamos. Quando falo enxugar, se desfazer de ítens, claro que o valor material importa em muitos casos, mas é o sentimental que nos faz parar para pensar nos atrasando na jornada da vida.
O importante é manter o charme e saber usar a equação certa na vida.
Retrato Em Branco e Preto
Composição: Chico Buarque
Já conheço os passos dessa estrada
Sei que não vai dar em nada
Seus segredos sei de cor
Já conheço as pedras do caminho
E sei também que ali sozinho
Eu vou ficar, tanto pior
O que é que eu posso contra o encanto
Desse amor que eu nego tanto
Evito tanto
E que no entanto
Volta sempre a enfeitiçar
Com seus mesmos tristes velhos fatos
Que num álbum de retrato
Eu teimo em colecionar
Lá vou eu de novo como um tolo
Procurar o desconsolo
Que cansei de conhecer
Novos dias tristes, noites claras
Versos, cartas, minha cara
Ainda volto a lhe escrever
Pra dizer que isso é pecado
Eu trago o peito tão marcado
De lembranças do passado
E você sabe a razão
Vou colecionar mais um soneto
Outro retrato em branco e preto
A maltratar meu coração
Souza Cruz S.A.
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