terça-feira, 28 de abril de 2009

Lucky Strike (Novo Tempo/Tempo Plugado)



Domingo último li matéria na revista que acompanha um jornal de grande circulação que falava sobre estes novos tempos, que nem são tão novos assim, exceto para os que, como eu, nasceram lá pela metade do século passado. Que tempo é esse? Tempo Plugado. Hoje estamos e/ou devemos estar atentos e ligados o tempo todo; são notícias e informações que nos assolam a mente 24 horas por dia, isto porque foi institucionalizado que o dia tem somente este tempo corrido, porque na verdade a impressão que se tem é que o tempo não pára, já dizia o poeta. E não pára mesmo, sempre foi assim, a diferença de tempos outros é que agora, com a tal falada globalização e os artifícios tecnológicos, tudo, exatamente tudo, está disponível e ao alcance de todos, absolutamente todos, o tempo todo, basta se plugar. E se por um acaso você não estiver fazendo parte deste nicho? Estará quase de fora, como o velho ditado diz: um peixe fora d'água. Não que ache exatamente interessante tudo que há neste mundo cibernético e nos avanços tecnológicos, não mesmo, concordo ser bem prático por um lado, mas como sempre digo haver o lado B em tudo, não seria este um caso sem exceções; há muito lixo por aí. Mas o que mais me chama a atenção é como em determinados momentos me sinto na obrigação de saber isto ou aquilo, as vezes assuntos que nem me interessam ou irão de fato mudar minha vida, mas os tempos modernos - sempre serão modernos - cobra, de certa forma, esta postura se queremos estar inseridos em um contexto amplo, seja no trabalho, em uma roda de amigos, e por aí vai. Profissionalmente então diria ser praticamente impossível. Se não bastasse telefone fixo, TV à cabo, jornais e revistas que são lançadas aos montões, vem toda série de aparelhos eletrônicos de enlouquecer - no bom e mau sentido, que fique claro - de IPhone, IPod, MP3 e etc e, óbvio, depois do advento Internet, a coisa vem mudando à galope em velocidade inebriante. A cada momento é um lançamento novo, me perco geral, são os Orkut, MySpace, Facebook, Twitter, Blogs e provavelmente já devem ter novos por aí que não faço a menor idéia. Todos se interligam de alguma forma, mas ... ai que loucura! (viva Narcisa).
Me pergunto como pode um ser normal viver desta forma. Normal não pode ser. Impossível conseguir estar conectado em todos estes aliens o tempo todo; uns dizem que conseguem, pode até ser, mas e a vida como conhecida até bem pouco tempo? E o admirar, o contemplar? Ainda existe reflexão? A filosofia e o verdadeiro entendimento ainda fazem parte de nossas vidas? Aliás, qual o verdadeiro proveito, de fato mesmo, que se tem através de todos estes mecanismos de sociabilidade? Aproxima as pessoas ou as torna mais individualistas, solitárias em seus nichos? São encontros reais ou efêmeros? E toda esta informação obtida, são usadas como? Onde? Com quem? São proveitosas? Ajudam no necessário crescimento pessoal ou são somente informações apenas? Para onde tudo isto irá nos levar? Não é tão simples assim responder, o mesmo ocorreu na Revolução Industrial, no advento da luz elétrica e em tantos outros grandes acontecimentos na humanidade ao longo dos tempos; acontecimentos que mudaram por completo o cotidiano das pessoas, e nós, contemporâneos, só iremos tomar consciência de fato não agora, mas nas gerações que irão chegando, claro que com uma defasagem menor que outrora. Mas estamos preparados para as mudanças?
Duvido que alguém esteja afim de parar para responder tais perguntas. A vida anda muito corrida, são muitos afazeres, é o que mais ouço por aí, sobreviver está cada vez mais competitivo, aliás, quase não se vive mais, isto sim. No bem da verdade consegui até onde pude e poço, me manter no paralelo, mas as exigências de tais tempos não me deixaram resistir aos apelos tecnológicos. Bem queria eu estar como a canção que diz:

Eu quero uma casa no campo
Do tamanho ideal
Pau-a-pique e sapê
Onde eu possa plantar
Meus amigos
Meus discos, meus livros
E nada mais.

A matéria lida falava exatamente sobre isto: de como não prestamos mais atenção no combustível primordial para a vida - a respiração - e também de todos os efeitos colaterais que estão começando a aparecer, lógico, daí a busca por novas, ou antigas na verdade, formas de viver que, mais uma vez, são encontradas nas filosofias orientais.
É muito claro isto para mim ainda ser surpreendido como pode um ser humano, a imagem e semelhança de um ser divino e poder maior, seja qual for a forma concebida, viver sem um momento de contemplação que seja com toda essa gama de possibilidades ao nosso redor. Possibilidades artísticas, culturais e naturais, eu digo. Para mim, impossível. Luto mesmo para manter pelo menos alguns momentos de paz, é assim que chamo, ou melhor, tenho dito que tenho meus 5 minutos, momento de recolher, um a mais que Madonna em um dos seus grandes últimos sucessos. São meus 5 minutos para salvar não o mundo, como diz a famosa pop star, mas sim para salvar à mim.
Salve-se quem puder!




SOUZA CRUZ S/A

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