sábado, 29 de maio de 2010

Cigarros Derby (De Canudo e Avental com Dignidade / "Brega&Chique" ou "Doméstica")


Depois que me desnudo (?!) de qualquer tipo patético de preconceito em realizar certas tarefas domésticas - imagina-se que quem possui um canudo, não se expõe a tanto (?!) - e inicio uma interação com baldes, detergentes, vassouras, produtos de limpeza e muita poeira - é uma loucura, quando chego na área de serviço, já tem pó no quarto. Sigamos! - e vou aos poucos deixando meu habitat atual limpo e cheiroso, ou quando me instalo na cozinha e mais que do nada uma "Ana Maria Braga" encarna, ao final dos afazeres, uma satisfação tamanha me invade. É uma conquista. Sempre ouvia dizer, e achava uma loucura, que cozinhar é uma terapia, uma arte, uma alquimia. Que limpar a casa era uma associação em limpar seu interior (?!). Assim seguia eu, mas os tempos mudam e sapo apertado é que pula. (Há males que vem para melhor).
São duas historinhas domésticas, mas primeiro devo/tenho que admitir que era eu uma pessoa total afastada destes tipos de movimentos. Mas, amante da boa mesa e da boa higiene pessoal e social que sou ... mãos a obra após mudanças ocorridas na área $ e que me "impulsionaram" para tal.
Quando comecei a me entrosar com os temperos, os sabores, as medidas e descobri que a temperatura tem importante participação no preparo dos alimentos, minha vida mudou. Tinha uma certa aflição em manipular alimentos crus, principalmente carnes. Gordura então, nem pensar. E o que era pitada? Ao gosto? De quem? ... Dúvidas, muitas dúvidas. Mas nada como um começo, dar start; e foi o que fiz! Me senti tão auto suficiente, de uma forma branca, independente mesmo. Hoje quando acabo de preparar tudo, sirvo meu prato e o coloco na mesa, olho e penso: "Fui eu quem fez tudo". Dá uma satisfação ... sem preço. Na minha casa, quem põe comida na mesa, sou eu, literalmente.
A segunda historinha tem a ver com limpeza, algo mais para faxina mesmo. Primeiro faço uma boa seleção musical - música tem um poder transformador divino - respiro fundo (cuidado com a poeira), e inicio, sem pensar. Ah! Uma boa garrafa de café já deve estar preparada, "minha faxineira" fuma muito.
Em vários momentos minha vontade é de largar tudo e sair correndo, ou invejo do fundo de meu ser  A Feiticeira, sua filha, família, Jeannie, é um gênio e afins. Mas sigo porque ao final de tudo, após um bom banho renovador, com a casa perfumada, com o astral renovado, um incenso aceso, um cigarrinho e é só relaxar com a satisfação de ter sido feito por mim, ter sido cuidadoso com cada canto de onde habito, onde vivo.
Hoje já posso dizer que sou de cama, mesa e banho. Embora seja bem eficiente em outras áreas, nestas, não deixo a desejar e me sinto até enobrecido por tal. Digno."Cada um sabe a dor e a delícia de ser o que se é" (Caetano Veloso).
Este poderia ser um post para o http://nafrequenciadosom.blogspot.com/ , até porque me lembrei de uma ótima canção de Eduardo Dusek - o talentoso e brilhante intelectual debochado - "Brega e Chique" ou "Doméstica", prefiro esta, é uma história que mistura glamour, esculacho, soberba e vingança. Muito bom!
Simbora!


"Brega&Chique" ou "Doméstica"


Foi trabalhar
Recomendada prá dois gringos
Logo assim
Que chegou do interior
Era um casal
Tipo metido a granfino
Mas o salário
Era tipo, um horror...
A tal da madame, tinha mania
Esquisitona de bater
E baixava a porrada
Quando a coisa tava errada
Não queria nem saber...
Doméstica!
Ela era
Doméstica!
Sem carteira assinada
Só caía em cilada
Era empregada
Doméstica!...
Nunca notou
A quantidade de giletes
Não reparou
A mesa espelhada no salão
Não perguntou
O quê que era um papelote
Baixou "os home"
Ela entrou no camburão...
Na delegacia
Sua patroa americana ameaçou:
"Lembra que eu sou
Uma milionária,
Eu fungava, de gripada
Não seja otária, por favor"...
Doméstica!
Traficante disfarçada
De doméstica
Era manchete nos jornais
O casal lhe deu prá trás
Sujando brabo prá doméstica...
No presídio aprendeu
Com as companheiras
A ser dar bem
A descolar, como ninguém
Ficou famosa
No ambiente carcerário
Com a mulata
Que nasceu prá ser alguém...
Pois não é que a
Doméstica!
Conseguiu uma prisão, doméstica
Saiu por bom comportamento
Mas jurou nesse momento
Vingar a raça das domésticas...
Então alguém
Lhe aconselhou logo de cara
"Dá um passeio
Vê se arranja um barão"
Porque melhor
Que o interior ou que uma cela
É ter turista e faturar
No calçadão...
Até que um dia
Um Mercedinho prateado buzinou
Era um louro alemão
Que lhe abriu a porta do carro
E lhe tacou um bofetão...
Doméstica!
Virou uma baronesa
Doméstica!
Mesmo com as taras do barão
Segurou a situação
Levando uma vida doméstica....
Realizada em sua mansão
Em Stutgard
Ouvindo Mozart de Beethoven de montão
Com um pivete
Mulatinho pela casa
Que era herdeiro
De olho azul como o barão...
Precisou de uma babá
Botou um anúncio
Bilíngüe no jornal
Seu mordomo abriu a porta
Uma loira meio brega
Uma yankee de quintal...
Doméstica!
Era a americana, de doméstica
A nêga deu uma gargalhada
Disse:
"Agora tô vingada
Tu vai ser minha
Doméstica"! ...(2x)





Souza Cruz S.A.

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